sexta-feira, 18 de julho de 2014

Só que não!


Não veio, na veia, a adrenalina.
No pulso, a pressão nem se auscultava.
O verbo, esse sujeito sem predicados,
misturava-se com palavras de baixo calão.
E a vida já nem era
e nem havia sido.
Só não morreu
porque não tinha existido.
E teve tudo o que podia ter tido:
o nada e o vazio.
Só que não!
O baixo calão poetizou
e à margem das letras
se fez poesia marginal.
O sujeito se armou de verbo
e de consciência.
E encheu-se de predicados.
A velha veia já necrosada,
ousada, encheu-se de poesia,
reviveu e pulsou.
E a vida escorreu pelo resto da vida!
Só que não!

Poema para um dia triste

(Para Will Cavagnolli e João Ubaldo Ribeiro)

Um imortal morre,
o despertador, não completa a chamada.
de quebra, o ônibus silencia.

Não há dor sem glória anterior,
não há palavras quando o palavrador se cala,
não há movimento quando o tempo precisa enlutar.

E o momento precisa purgar o passado,
se despojar do presente e contemplar o futuro.
Há dias, em que a fotografia das palavras
só pode se despir da perspectiva.

Aqui, Ali, Acolá

(para Cristiano Matos e Renata Lourenço)

Um aqui, no Ali,
outra acolá.
Uma cerveja Renata.
Um olho foca a cidade,
o outro, mais natural, Matos.
A banda está lá, no canto,
num lá lá lá lá, profundo.
que ora cala fundo,
ora grita, mudo.
Um rosto surge aqui,
o outro a colar nele.
Música, flash, contato, pele.
Bocas!
"Mais uma cerveja Renata, por favor!
Está quente por aqui!"
Por ali, também!