Dias desses, estava eu conversando ao telefone com minha
filha Ana Bárbara, que vive como que uma estrangeira, em terras distantes e
estranhas, e ela me pareceu carregar uma tristeza além da costumeira (as estrangeiras
tem um tristeza intrínseca), o que me deixou em estado de alerta.
As dificuldades para quem parte para outras terras não se dão no choque inicial e sim, no
decorrer das adaptações às regras, à sociedade que não se compreende e as
oposições que parecem destoar do aprendizado de vida.
Conversei um tanto com ela e por mais sorrisos que consegui
arrancar, pousei o telefone no gancho com a sensação que, apesar da distância,
poderia e deveria tentar algum alento.
Sempre penso nas palavras e na música. Lembrei que na minha
infância tínhamos um disco compacto com
a “Canção para Bárbara” que minha mãe, que também é duplamente Bárbara (bárbara
significa “estrangeira” e minha mãe nasceu na antiga Iugoslávia, atual Sérvia),
adorava e ouvia com frequência. Pensei em enviar-lhe essa canção com algumas
palavras que pudessem ajudá-la.
Não contava que teria dificuldades em achar a bendita canção.
Procurei pela internet e nada. Não existe “Canção para Bárbara”. Fiquei
frustrado.
Estava quase desistindo da empreitada quando me ocorreu que
a música fora trilha sonora de novela. Eu era criança e me lembrava, hoje, da cara da
Regina Duarte em “close” com a música ao fundo. “Fogo sobre Terra”. Era essa a
novela. Procurei a trilha sonora na internet. Na trilha nacional não encontrei.
Mas, claro, só poderia estar na estrangeira. Nada de Bárbara.
E então, aquilo que estava oculto quando deveria parecer o
óbvio, se apresentou.
A canção não se chama “Canção para Bárbara”. Era o “Tema de
Bárbara” (que era o papel da Regina Duarte, que na época não demonstrava ser medrosa)
e a canção se chamava “Le Chanson Pour Anna”.
E aí me ocorreu a seguinte torrente de imagens: mãe, Bárbara,
estrangeira, leonina, elemento fogo, em terras distantes, tema de Bárbara, música
para Ana, de “fogo sobre terra”, filha, Ana Bárbara, Capricorniana, elemento
terra, distante, estrangeiras...
Não lhe enviei a mensagem. Contei-lhe a história ao
telefone. A história de um tema de Bárbara, que é uma canção para Ana,
oferecida à Ana Bárbara. A graciosa estrangeira.
Adorei..
ResponderExcluirQue linda crônica....