quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O pequeno planeta

Ele era diferente. Desde criança. Numa época em que era perigoso ser diferente. Muito perigoso. Não se sabe precisar o ano, mas, naqueles tempos os homens viviam da caça e estavam deixando de serem nômades e começando a se estabelecer em pequenas vilas.
Nosso protagonista, cujo nome parecia um grunhido, impronunciável, não caçava. Costumava plantar. E, empiricamente, foi desenvolvendo habilidades de cultivo e métodos de plantio. Coisas bem embrionárias, porém, funcionais. Acabou por descobrir, entre as rochas vulcânicas, um material que auxiliava no crescimento das plantas (o primeiro fertilizante).
Nosso amigo, de sensibilidade e inteligência ímpares para a época, passou a cultivar - além de frutas, hortaliças e legumes - flores, folhagens e gramas, construindo um jardim e tornando-se o primeiro jardineiro da história.
Enquanto cultivava suas plantações, o restante da aldeia caçava e se ressentia do “vagabundo” que, apesar dos protestos, ainda alimentava e embelezava a aldeia. E os anos se passaram. Como disse no início, nosso amigo era diferente. E, em tempos de homens peludos e cabeludos, acabou por ficar careca, destoando de toda a população da aldeia.
Para sanar a calvície, aprofundou suas observações à grama e ao fertilizante que havia descoberto, criando uma mistura de fertilizante e banha animal. Untou a cabeça com a mistura e aplicou vários nacos de grama a ela. Em menos de quatro luas, a grama já supria o vazio deixado pela queda de cabelos.
O que era para ser uma solução acabou se tornando um pesadelo. Naqueles tempos, as crendices e as superstições estavam em alta e, numa temporada marcada pela escassez de caça, ele acabou virando o bode expiatório. Acusado de desagradar os deuses pela sua cabeleira verde, foi condenado à morte.
Numa tarde chuvosa, foi levado ao monte mais alto da região para o cumprimento da sentença. Pediu a seus algozes que o deixassem levar uma rosa do seu jardim. Antes que a noite caísse, sua cabeça foi decepada e rolou em uma pequena depressão. A rosa caiu-lhe da mão indo fincar-se na grama que lhe cobria a cabeça.
Passaram-se muitos séculos e a grama tomou conta da cabeça, tornando-se uma bola de grama onde, solitária, uma rosa resistia ao tempo.
Um dia, o monte explodiu em um vulcão. A força da explosão foi tão grande que arremessou a bola de grama para fora da atmosfera terrestre, entrando na orbita solar e adquirindo atmosfera própria.
Dizem que se você tiver paciência de procurá-lo com um telescópio potente, irá encontrá-lo em os planetas Terra e Vênus. Algumas histórias falam de um pequeno príncipe, que evolui a partir das células cerebrais do núcleo do pequeno planeta, lá vive cultivando uma rosa vermelha que é sua única companhia.

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